No futuro, motorista fará tudo, menos dirigir, diz Carlos Ghosn

16/01/2013 11:00

No futuro, motorista fará tudo, menos dirigir, diz Carlos Ghosn

Presidente da Nissan quer que montadora seja a primeira a ter um carro que dirige de maneira autônoma

Ricardo Meier, de Detroit (EUA) | 16/1/2013 10:05

Foto: Getty Images

Carlos Ghosn, CEO da aliança Renault-Nissan

Seja em Paris, Tóquio, Detroit ou São Paulo, Carlos Ghosn sempre se apresenta com seus ternos bem cortados e o hábito de falar objetivamente e de maneira clara, não importa o assunto – tecnologia, mercado ou mesmo questões políticas. Brasileiro de origem libanesa, o presidente da aliança Renault-Nissan possui um sotaque que lembra o de um bom vinho francês, ao misturar notas das várias línguas que domina, inclusive o português.

No COBO Hall, em Detroit, ele convidou alguns jornalistas para anunciar o preço do Leaf 2013, que não chega a ser uma reestilização, mas sim uma correção de rota na trajetória do modelo elétrico, que de ícone verde passou a um problema para a Nissan com suas vendas abaixo do esperado: “evidentemente que erramos em algumas coisas, mas também fomos vítimas de outras com as quais não podemos agir como o iene valorizado”, explicou Ghosn.

Numa edição do Salão de Detroit em que o discurso verde ficou em segundo plano, o presidente do grupo franco-japonês virou voz solitária ao continuar acreditando na demanda pelos veículos 100% elétricos ou, como prefere dizer, “de emissão zero”. “Veja o que aconteceu na China, por causa dos altos índices de poluição, o governo precisou proibir a circulação dos carros oficiais”, lembrou. “É a prova mais contundente sobre o problema das emissões dos veículos comuns. A solução? Veículos de emissão zero como o Leaf”, concluiu.

A segunda onda do Leaf começa este ano. A Nissan investiu numa linha de produção americana que inclui até uma fábrica de baterias de íon de lítio no local. Também aperfeiçoou o sistema de recarga para que o abastecimento seja mais rápido e fez pequenas mudanças estéticas e de conveniência no veículo, a pedido dos consumidores. Mas a principal novidade é o preço, que teve uma redução significativa, de 18%. Agora o elétrico custa US$ 28 mil (cerca de R$ 57 mil), mas o cliente norte-americano paga pouco menos que US$ 19 mil (R$ 38 mil) graças aos incentivos oferecidos pelo governo federal em alguns estados.

Trânsito mais seguro

Por esse valor, o Leaf passa a brigar na mesma faixa de preços de modelos compactos comuns nos EUA como o Civic e o Corolla. A insistência de Ghosn em mudar o panorama dessa indústria vai além. Ele acredita que num futuro próximo os carros terão direção autônoma graças à tecnologia hoje em desenvolvimento. “Mas não estou falando de carros sem motorista e sim de um motorista que quase não dirige. Em vez disso, falará ao telefone, trabalhará ou se divertirá”, esclarece. “E a Nissan quer ser a primeira fabricante a lançá-los no mercado, por volta de 2020”, completa.

Os sistemas a que Ghosn se referem são os que atualmente já fazem parte do trabalho do motorista como o ACC, que mantém a distância do carro que vai à frente, ou de outros como o que alerta quando o carro sai da sua faixa de rolagem. No futuro, o carro integrará todos esses sistemas para realizar todo o tipo de tarefas, seja utilizar informações via GPS para traçar rotas por conta própria, evitar trânsito, estacionar o veículo sozinho ou mesmo procurar um bom restaurante para seu dono: “será perfeito também para os deficientes, um público importante e que hoje depende de versões adaptadas de carros comuns”, lembra Ghosn. Só não espere ver automóveis rodando pelas ruas sem ninguém ao volante. Para o brasileiro, isso deve ficar ainda por um bom tempo apenas nos filmes de ficção científica.

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